Produtividade: uma medida de eficiência, um desafio para a competitividade

O projeto “Melhorar a Produtividade pela Inovação”, promovido pela AEP - Associação Empresarial de Portugal, tem como objetivos a melhoria da competitividade e o aumento da produtividade e eficácia das PME.

 

1. Síntese 

Pretende-se ajudar a refletir e a promover os conceitos de produtividade e de inovação e a atingir melhorias de produtividade com base na inovação, como pressuposto para a construção de vantagens competitivas sustentáveis para as PME e o progresso das regiões. 

Inserido no espírito do projeto “Melhorar a Produtividade pela Inovação” da AEP - Associação Empresarial de Portugal, esta missão tem na participação ativa de um conjunto de entidades e personalidades, que reflitam a diversidade do sistema nacional de inovação, um pilar crucial.

 

2. Enquadramento no COMPETE

Apoiado pelo COMPETE no âmbito do SIAC - Sistema de Apoio a Acções Colectivas, o projeto Melhorar a Produtividade pela Inovação” envolveu um investimento elegível de 582.581€, correspondendo a um incentivo FEDER de 407.807€.

 

3. Descrição

A AEP - Associação Empresarial de Portugal tem tido um papel ativo na promoção da necessidade da melhoria da produtividade desde há vários anos.

Um exemplo foi o lançamento da iniciativa “Kit de Produtividade”, que se tratou de um suporte apresentado em papel sob a forma de um livro e em formato digital, através do qual pretendeu difundir um conjunto de ferramentas metodológicas, técnicas e conceitos, dirigidas às empresas para aumentarem o valor para os clientes dos produtos que produzem e reduzir o custo dos fatores utilizados.

Na sua intenção de empreender um verdadeiro “Movimento Pela Produtividade”, mobilizador sobretudo do tecido empresarial composto pelas PME nacionais, onde a necessidade de melhorar a competitividade impõe a necessidade de melhorarem a sua produtividade, a Associação Empresarial de Portugal tem realizado ciclicamente um conjunto de ações de análise, conceção e capacitação das empresas para este tema, bem como proposto formas de o conseguir.

O projeto “Produtividade pela Inovação” lançado em 2009, cofinanciado pelo COMPETE, foi uma dessas iniciativas que procurou:

  • Sensibilização para a inovação;
  • Dinamização da gestão das atividades de IDI e sua certificação de acordo com a norma NP 4457: 2007;
  • Promoção e difusão da propriedade industrial como ferramenta indispensável para um bom;
  • Desempenho em matéria de inovação;
  • Programas de benchmarking e scoring como mecanismos de diagnóstico e avaliação do posicionamento competitivo das empresas e definição de planos de oportunidades de melhoria, que deverão integrar um conjunto de recomendações disponíveis para serem posteriormente implementadas, quer numa lógica de intervenções de curto prazo quer de estratégias de desenvolvimento a médio e longo prazos.

O projeto apresentou uma estratégia de melhoria da produtividade assente no desenvolvimento de um modelo de gestão que privilegie a "destreza operacional", a "simplificação" de processos e do relacionamento com os parceiros, a começar pelas fontes de conhecimento, e uma estratégia focada na "inteligência competitiva" e em "resultados", a maioria das empresas nacionais pode vingar e "vender mais no mercado global", "com maior valor para o cliente" e a "preço competitivo".

Esta abordagem conjunta de por um lado aumento da eficiência da organização, com consequente aumento da produtividade e o reforço da sua capacidade de diferenciação suportado nos processos de inovação concorrem para o aumento da competitividade da empresa, um conceito mais abrangente do que produtividade. Embora incorpore esse fator, no sentido em que um preço reduzido é um incentivo à sua comercialização, é muito mais extenso e incorpora características intangíveis como a qualidade, marca, serviço pós-venda, reputação, etc.

Note-se que numa situação concorrencial de produtos semelhantes, a única forma de ser competitivo é pelo preço, o que implica uma redução de custos (encontrar trabalho mais qualificado aqui é irrelevante, porque o objetivo não é produzir mais, mas mais barato!). Dado que a empresa não controla diretamente a eficiência dos fatores de produção, só reduzindo os custos unitários do trabalho é que pode ser competitiva.

Há, no entanto exemplos de empresas, como por exemplo a Aston Martin que é extremamente competitiva, ao ponto de deter, quase, o monopólio do seu tipo de produto, mas que, no entanto, é extremamente improdutiva: produz tudo à mão. Se a empresas tivesse adquirido uma linha de montagem, com mais capital,  provavelmente produziria muito mais. Mas isso não lhes interessa, porque a empresa é competitiva porque o seu produto é único, exclusivo, diferenciado, de alto valor acrescentado.

O mesmo se passa com alguns dos têxteis franceses, marcas que detêm uma marca de valor elevado no segmento de luxo, pelo que a produtividade do trabalho é menos relevante: pois em vez de baixarem os custos, basta aumentarem o preço de venda. Daí que a empresa nem precise de produzir no Sri Lanka ou na Índia. Produz nos EUA, Alemanha, França, Suíça, Espanha ou Portugal. Já as marcas que possuem menos diferenciação, que competem pelo preço, têm necessariamente de produzir em locais cuja mão-de-obra seja barata.

Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgados no último trimestre de 2013, o custo da unidade de trabalho (rácio entre a remuneração por trabalhador e a produtividade) caiu 0,2% na zona euro e subiu, pela primeira vez no ano passado, 0,1 no conjunto da OCDE.

Além de Portugal, os custos da unidade de trabalho também caíram em Espanha (0,4%), porque as remunerações diminuíram mais que a produtividade, e em Itália (0,1%), mas neste caso devido a fortes ganhos de produtividade.

A subida dos custos entre Outubro e Dezembro de 2013 na OCDE resultou principalmente das subidas no Japão (0,7%), Estados Unidos (0,1%) e Austrália (0,1%) e também nalguns países europeus como a Noruega (1,4%) e da zona euro, designadamente Finlândia (0,8%), Alemanha (0,2%) e França (0,1%).

O custo da unidade de trabalho em Portugal caiu 6,5% no último trimestre de 2013, a maior queda da zona euro e da OCDE e devido "quase exclusivamente à queda dos custos do trabalho", referiu a organização.

Esta subida da produtividade foi acompanhada de uma nova descida das remunerações, de -0,6% no primeiro trimestre, que compara com variações de +2,5% e -0,7% nos trimestres precedentes. Os dois factores combinados resultaram numa forte contracção dos custos unitários de trabalho, que sofreram a maior queda no conjunto da OCDE: - 2,4%. Esta descida anulou a variação de +2,3% observada no último trimestre de 2012, que tinha sido precedida de variações de -0,5% e de +1,7% nos períodos anteriores

Será comum afirmar que os trabalhadores portugueses são tão produtivos como os alemães, pelo que os salários não deveriam ser um problema, mas sim a falta de capital. No entanto as estatísticas mostram que os alemães acrescentam 55.8 USD por hora de trabalho enquanto os portugueses acrescentam 32.4 USD. Esta importante diferença prende-se com os fatores diferenciadores que a nossa economia não tem.

No entanto se Portugal mantiver a estrutura produtiva atual, de produtos indiferenciados cujo único fator de competitividade é o preço, então será inevitável que os salários têm continuar a baixar para pelo menos manter o nível mais competitivo, pois haverá sempre alguém que fará mais barato. Isto é, obviamente, mau.

Um estudo da Comissão Europeia sobre o valor das patentes, baseado num inquérito a 10.000 inventores de oito Estados Membros (Alemanha, Dinamarca, Espanha, França, Hungria, Itália, Países Baixos e Reino Unido) avaliou a existência de uma correlação entre a utilização de direitos de propriedade intelectual e industrial e o bom desempenho em matéria de inovação. Segundo esta hipótese, os países com elevado desempenho em termos de inovação caracterizam-se, em geral, por altos níveis de registo de patentes e pela utilização de outros direitos, nomeadamente direitos relativos aos desenhos e modelos e direitos conferidos por marcas.

Esta correlação confirma-se a nível sectorial, com uma tendência para uma maior inovação nos sectores em que são registadas mais patentes.

É urgente entender a situação, cuja tendência não será para retroceder mas antes para se acentuar.

A solução passa pela mudança dos modelos de gestão das organizações, alteração das estruturas e atitude das pessoas.

É preciso mudar o paradigma de gestão acompanhando a volatilidade das conjunturas e as alterações estruturais identificadas.

O caminho passa por apostar em organizações orientados para a inovação e a mudança, aptas a reconstruírem-se continuamente e que assumam como paradigmas de desenvolvimento quatro pilares:

•          Visão Global;

•          Agilidade;

•          Flexibilidade;

•          Elevada Produtividade.

As PME poderão ultrapassar os desafios contínuos que se apresentam no mundo globalizado através das seguintes ações:

  • Manter ligação íntima e permanentemente com os clientes. A velocidade das mudanças é tão alta e afeta tão rapidamente os negócios que a empresa tem que ter a capacidade de as antever, discernir e se antecipar as necessidades dos clientes. O que só será possível com o estabelecimento de pontes, e não erguendo muralhas;
  • A empresa deve utilizar todas as ferramentas e recursos da tecnologia de informação e de comunicação. O objetivo é manter ligações rápidas com seus clientes e fornecedores. A internet é uma da ponte de ligação imprescindível;
  • É preciso estabelecer relações de colaboração, sejam presenciais ou virtuais. As dinâmicas de criação de valor estão-se a tornar tão complexas que nenhuma empresa será capaz de as dominar sozinha. Neste caso, a Internet também se apresenta como uma, potencial, ponte entre empresas nas suas relações de colaboração, sejam entre concorrentes, cliente/fornecedor ou empresas complementares;
  • Por menor que seja, a empresa deve aprender a comportar-se como grande para aproveitar com rapidez os instrumentos de colaboração, e poder avançar mais, com maior velocidade e profundidade;
  • É necessário implementar inovações permanentemente, não só as tecnológicas mas em todas as atividades internas e externas da empresa. Ousar novas maneiras de gerir, partilhar o conhecimento e dividir o processo de decisão dentro da empresa, são exemplos de ações que devem ser exploradas, e trarão bons resultados para o negócio.

 

4. Links

Site da AEP: http://www.aeportugal.pt/

 

Foto: Cortesia de KROMKRATHOG em FreeDigitalPhotos.net

08/09/2015 , Por Cátia Silva Pinto
COMPETE
União Europeia