Entrevista a Jorge Carneiro, responsável pelo núcleo de I&D na Grestel

Cofinanciado pelo COMPETE 2020, o projeto ECOGRES + NG visou o desenvolvimento de uma pasta corada de grés para louça de mesa a partir de resíduos e subprodutos industriais, valorizando não só os da GRESTEL mas também de empresas de outros sectores.

Entrevistámos Jorge Carneiro, Responsável pelo núcleo de I&D da Grestel, que nos falou do projeto, dos desafios e dos resultados alcançados e da importância do apoio dos fundos comunitários. 

 

1. Entrevista a Jorge Carneiro, responsável pelo núcleo de I&D na Grestel 
 
Jorge Carneiro, responsável pelo núcleo de I&D na Grestel 
Qual o ponto de situação do projeto?
O projeto ECOGRES + NG foi concebido em duas fases, cada uma contendo um objetivo científico bem definido. Numa primeira fase a incorporação de resíduos produzidos pela Grestel (>75%) e numa segunda fase a incorporação de resíduos da Grestel (aparas de pasta, caco cru, pó de despoeiramento, lamas da ETARI, caco cozido) e de outras indústrias da região (>80%). O primeiro objetivo científico encontra-se alcançado, tendo a primeira fase sido dada por concluída com sucesso. Foi lançada uma linha de novos produtos, produzidos com a pasta desenvolvida, em comercialização com a marca registada ECOGRES.
 
A segunda linha de investigação pretende pegar no conceito da valorização de subprodutos, já conseguido na primeira fase do projeto, e ir mais longe com a incorporação de resíduos/subprodutos de outras indústrias na pasta de grés fino utilizada na Grestel, conceito de economia circular.
 
As empresas da região parceiras no projeto são a Extrusal, S.A. e a Grohe - Componentes Sanitários, Lda, que fornecem os subprodutos lamas de anodização (LA) e lamas de galvanização (LG), respetivamente.
 
Neste momento o projeto encontra-se na fase de produção de protótipos a partir de pastas compostas por >80% de resíduos internos e externos.
 
Os resultados obtidos pelo segundo copromotor do projeto, CICECO - Aveiro Institute of Materials (Universidade de Aveiro), têm sido muito promissores, com as características mecânicas das peças produzidas a estarem dentro dos parâmetros estabelecidos para peças em grés fino.
O próximo passo será o upscaling, com a produção de uma quantidade significativa de pasta na linha experimental de produção de pasta da Grestel, para produção de um número significativo de peças, validando assim a nova pasta para produção industrial.
   
Quais foram os principais desafios com que se deparam no desenvolvimento do projeto ECOGRES + NG?
Este projeto colocou uma serie de desafios durante a sua execução, algo esperado quando se tenta desenvolver uma pasta grés a partir de subprodutos/resíduos. As propriedades mecânicas de uma pasta grés estão muito relacionada com a sua composição química e mineralógica, tamanho de partículas, processo de fabrico e ciclo de cozedura. Uma pasta produzida a partir de matérias primas virgens requer um grande controlo de todos os lotes de matérias recebidas para garantir a sua constância ao longo do tempo. Quando se utilizam subprodutos/resíduos torna-se um desafio significativamente maior pois os subprodutos têm variações muito grandes, pelo que é necessário fazer vários loteamentos e muitas caracterizações, bem como ajustes permanentes à própria composição da pasta na medida da variabilidade dos lotes de subprodutos. Lamas da ETARI e pó de despoeiramento, em particular, colocam um desafio extra, devido a sua composição poder variar de vidrados mates a reativos bem como à relação entre pasta e vidrado na composição das lamas da ETARI. De entre os subprodutos testados são estes os que mais se afastam da composição química da pasta. Outro dos subprodutos problemáticos é o caco cozido, que necessita se ser processado (moído ate à correta granulometria) antes da adição à pasta, ao contrário dos anteriores que apenas precisavam de ser dispersos/diluídos. No entanto foi possível ultrapassar estes desafios e desenvolver uma pasta grés com sucesso.
 
O segundo objetivo científico abarca dois desafios, o primeiro a integração de um resíduo proveniente de outra indústria. Em grande medida, este já se encontra ultrapassado com resultados promissores ao nível da produção de protótipos a partir de pastas com percentagem >80% de subprodutos internos e lamas de anodização ou lamas de galvanização.
O segundo desafio é a desclassificação do resíduo para posterior utilização. Esta desclassificação requer um procedimento legal, para o qual o projeto ECOGRES + NG está a dar um grande contributo, ao providenciar uma aplicação de valorização. Este desafio esta a ser ultrapassado neste momento, e acreditamos que esteja concluído com sucesso até ao término do projeto.
   
De entre os resultados alcançados, há algum que gostariam de destacar?
Há dois resultados que merecem ser realçados, e que permitem perceber o sucesso do projeto ECOGRES+NG. O primeiro está diretamente relacionado com o atingir do primeiro objetivo científico, que permitiu o desenvolvimento de uma linha de produtos nova e diferenciadora. Este produto, linha Ecogres, foi apresentado nas principais feiras internacionais do sector no início deste ano, tendo sido bem recebido pelo mercado e estando em comercialização
O projeto ECOGRES+NG também permitiu a validação do conceito de economia circular na região de Aveiro. Foi possível, no âmbito deste projeto, em parceria com empresas de diferentes sectores (Extrusal, S.A. e a Grohe - Componentes Sanitários, Lda) e com o auxílio da Universidade de Aveiro (CICECO - Aveiro Institute of Materials), conseguir um produto que incorpore com sucesso resíduos/subprodutos de diferentes indústrias. Não tendo ainda sido finalizada esta etapa, realça-se os resultados promissores obtidos até ao momento, que indicam o possível desenvolvimento de uma nova pasta com sucesso.
   
Qual a mais valia do apoio do COMPETE 2020?

O apoio do COMPETE 2020 permitiu à Grestel a criação de atividades de I&DT e a colaboração com a comunidade do sistema de investigação científica nacional no âmbito dos materiais cerâmicos e compósitos (UA - CICECO). Também permitiu desenvolver colaborações com parceiros indústrias, de diferentes sectores, da região de Aveiro para desenvolver um novo produto inserido numa lógica da económica circular, quase exclusivamente composto por resíduos e subprodutos.

O apoio COMPETE 2020 é fundamental para o desenvolvimento de novos e inovadores produtos, aumentando desta forma a competitividade da Grestel no mercado global.

 
 
2. Apoio do COMPETE 2020
 
Apoiado pelo COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Incentivos à I&DT, na vertente em co-promoção, o projeto “ECOGRÉS + NG” envolveu um investimento elegível de 871 mil euros, correspondendo a um incentivo FEDER de 439 mil euros.
 
 
3. Links úteis
 
 

 

18/05/2020 , Por Cátia Silva Pinto
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