"Fico muito orgulhosa quando os investigadores que estão a trabalhar comigo conseguem receber reconhecimento"



Como é que tem corrido a investigação que tem desenvolvido no CNC - Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra?

Sou investigadora no CNC - Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra desde que acabei o meu doutoramento, em 2002, e após regressar da Suíça onde estive 3 anos como investigadora bolseira. O grupo de Neuroendocrinologia e Envelhecimento do CNC, que coordeno, tem investigado de que forma as funções da área cerebral hipotálamo podem regular o envelhecimento. Deixe-me explicar melhor… em animais em laboratório (ratos, moscas, etc) conseguimos aumentar o tempo de vida e diminuir o número de doenças se diminuirmos as calorias ingeridas, isto é, se os animais etiverem am restrição calórica. Já se conhecem os processos celulares e moleculares que explicam os benefícios dessa restrição calórica na longevidade. No nosso grupo de investigação no CNC mostramos que a restrição calórica aumenta a capacidade dos neurónios de ratinhos do hipotálamo de realizarem o processo de limpeza, chamado  autofagia. Além disso, observámos que uma molécula produzida por esses neurónios (o neuropeptídeo Y)  é um dos responsáveis pelo aumento da autofagia induzida por restrição calórica.

Com estes resultados, e de outros grupos de investigação, colocamos a hipótese de que o neuropeptídeo Y, pelo menos em parte, imita os efeitos benéficos da restrição calórica. Assim, nos últimos anos parte da nossa investigação no laboratório tem tido como objetivo investigar se o neuropeptideo Y é relevante para a prevenção do processo de envelhecimento e de doenças associadas ao envelhecimento. 

 

Que projetos têm agora em cima da mesa?

Temos vários projetos em cima da mesa, e cofinanciados por fundos comunitários no âmbito do COMPETE e do Portugal 2020. Num dos projeto estamos a tentar perceber se a tal molécula que falei atrás (o Neuropeptídeo Y) consegue fazer com que o envelhecimento celular e de  animais de laboratório apareça mais tarde. 

Noutro projeto, também financiado, estamos a tentar perceber se a apneia obstrutiva do sono acelera o envelhecimento. Neste projeto, em colaboração com a Clinica do sono do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, estamos a investigar se células do sangue de doentes com apneia estão com mais marcadores  de envelhecimento do que as células de pessoas sem apneia do sono. 

 

O que a deixa mais orgulhosa?

Fico muito orgulhosa quando os investigadores que estão a trabalhar comigo conseguem receber reconhecimento internacional e nacional, na forma de publicação em revistas científicas de referência ou quando recebem prémios pela investigação desenvolvida.

 

Qual foi o momento mais emocionante no seu trajeto professional?

Não existe o momento, mas vários momentos. Mas sem dúvida o reconhecimento internacional pela aceitação da publicação numa revista internacional de elevada qualidade, é sempre um momento muito bom e que festejamos sempre.

 

E qual foi o obstáculo mais interessante de superar?

Quando mesmo em situação de crise, se consegue financiamento para continuar a investigar.

 

E agora como Vice-reitora da Universidade de Coimbra, o que vai mudar?

Iniciei este novo desafio há poucos dias, por isso ainda não sei responder. Mas como estou responsável pela investigação, doutoramento e comunicação de ciência, espero continuar a contribuir para que mais financiamento chegue aos centros de investigação na Universidade de Coimbra, aumentar a divulgação e impacto da investigação desenvolvida na Universidade de Coimbra e contribuir para atrair mais estudantes de doutoramento e investigadores doutorados. E, claro que quero continuar a ser investigadora. 

 

E Gerir o tempo ? Qual o segredo ?

Acreditar que vamos conseguir, dormir bem, e muito optimismo. 

 

A sua experiência com os Fundos da União Europeia … fizeram a diferença ? 

Sem os Fundos da União Europeia tenho a certeza que não conseguiria ter chegado onde cheguei.

06/03/2019 , Por Cátia Silva Pinto
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