FRUITIFY: Um projeto que investiga o potencial do sumo de mirtilo para impedir a evolução da pré-diabetes para a diabetes

Em declarações, Flávio Reis, Investigador Responsável do Projeto FRUITIFY, falou da contribuição do COMPETE 2020 na concretização da investigação acerca da hipótese do sumo de mirtilo impedir a evolução da pré-diabetes para a diabetes:

Flávio Reis, Investigador Responsável do Projeto FRUITIFY e Investigador Principal no Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR) da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC)

 

O apoio do COMPETE 2020 foi crucial para o desenvolvimento deste projeto de investigação, uma vez que permitiu concretizar algumas das hipóteses de que partimos baseadas em resultados que eram necessariamente preliminares.

Hoje sabemos que o sumo de mirtilo exerce um efeito protetor sobre a intolerância à glicose, a resistência à insulina e a esteatose hepática num modelo animal de pré-diabetes, efeitos que parecem resultar fundamentalmente da prevenção da acumulação lipídica e da melhoria da dinâmica mitocondrial no fígado. Para além do COMPETE 2020, temos contado com a colaboração dos nossos parceiros académicos e também da COAPE (Cooperativa Agro-Pecuária dos Agricultores de Mangualde), que é o nosso parceiro comercial e estratégico, importante não apenas pelo fornecimento do fruto para a realização dos ensaios mas também pelo acompanhamento técnico e consultivo do projeto.”

Enquadramento

A diabetes mellitus tipo 2 (DMT2) é uma epidemia de proporções mundiais. Esta doença é precedida por uma fase assintomática denominada pré-diabetes. Dados epidemiológicos recentes estimam que 40,7% da população portuguesa (20-79 anos) sofre de pré-diabetes (27,4%) ou de diabetes (13,3%). Neste contexto, é vital identificar estratégias que modulem mecanismos fisiopatológicos precoces para prevenir e/ou atenuar a progressão da doença e suas complicações crónicas.

É sabido que as alterações metabólicas precedem em muitos anos o diagnóstico, mas pouco se conhece sobre os mecanismos responsáveis pela conversão de pré-diabetes em diabetes. No âmbito deste projeto, preconiza-se que alterações induzidas pela dieta na composição da microbiota intestinal sejam determinantes, devido a contribuírem para a inflamação sistémica e perturbação do "eixo intestino-fígado".

Os compostos bioativos presentes nos mirtilos são benéficos em doenças metabólicas devido às suas propriedades antioxidantes, inflamatórias e sensibilizadoras de insulina. Sabe-se ainda que extratos de mirtilo afetam a microbiota intestinal devido às suas atividades pré-bióticas. Contudo, continuam por explorar as propriedades pré-bióticas e citoprotetoras dos mirtilos na pré-diabetes. Sugere-se que o sumo de mirtilo pode ser uma estratégia nutracêutica eficaz para prevenir a progressão da doença, tendo como alvo a disbiose intestinal induzida por dietas com alto teor de açúcares e gorduras em modelos animais.

O Projeto

O objetivo central deste projeto é avaliar, pela primeira vez, os efeitos do sumo de mirtilo em relação ao seu potencial para impedir a evolução da pré-diabetes para a diabetes. Como objetivo secundário, pretende-se avaliar a capacidade do sumo de mirtilo para reverter a diabetes, por si só e em combinação com a metformina, um antidiabético oral de primeira linha.

Para isso, está a ser avaliado o impacto do sumo de mirtilo utilizando modelos de pré-diabetes e de diabetes induzidos por consumo de dieta rica em açúcar e gordura. Portanto, o primeiro passo foi desenvolver o protocolo animal com as características (pré-diabetes e diabetes) necessárias para testar os efeitos do sumo de mirtilo, principalmente quanto à capacidade de impedir a evolução da pré-diabetes para a diabetes. A pré-diabetes foi induzida em ratos Wistar com uma dieta rica em sacarose durante 9 semanas. Essa abordagem criou uma condição de normoglicemia em jejum, tolerância reduzida à glicose, hiperglicemia pós-prandial, juntamente com hiperinsulinemia, sensibilidade à insulina reduzida (resistência) e hipertrigliceridemia, sem obesidade. Para agravar o estádio da doença , os animais foram tratados com uma dieta rica em gordura. O grupo com alto teor de sacarose (versus o grupo controlo: dieta padrão) foi dividido em dois subgrupos - um sem e outro com sumo de mirtilo, administrado por via oral. Os frutos de mirtilo foram oferecidos pela Cooperativa Agropecuária dos Agricultores de Mangualde (COAPE), da mesma variedade e no mesmo estágio de maturação, e congelados a -80ºC. As porções de sumo são preparadas diariamente.

Dois momentos da visita às instalações da COAPE para recolher os frutos de mirtilo

O estudo será complementado com o objetivo secundário, que é testar a capacidade do sumo de mirtilo para reverter a diabetes, por si só e em combinação com a metformina. Para isso, os ratos tratados com dieta rica em sacarose + dieta rica em gordura (assim como os animais controlo) serão subdivididos em 4 grupos, de acordo com os seguintes tratamentos: controlo (veículo), sumo de mirtilo, metformina e sumo de mirtilo + metformina.

O projeto pretende ainda constituir-se como o embrião da conceção de novos suplementos alimentares, assentes na utilização do mirtilo, com potencial terapêutico para prevenção da progressão da diabetes. Existe uma forte implementação de cultivo de mirtilo na região central de Portugal. A COAPE disponibilizou-se para colaborar no desenvolvimento deste projeto, acreditando existir um enorme potencial na área de nutracêuticos (nomeadamente para aplicação na prevenção da diabetes) e, acima de tudo, acredita-se que o conhecimento que o projeto poderá gerar contribuirá para fortalecer um setor agroalimentar mais sustentável e competitivo.

O Apoio do COMPETE 2020

O projeto, que é promovido pela Universidade de Coimbra em parceria com a Universidade Católica, conta com o apoio do COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Apoio à Investigação Científica e Tecnológica, envolvendo um investimento elegível de 239 mil euros o que resultou num incentivo FEDER de cerca de 203 mil euros.

 

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24/04/2020 , Por Miguel Freitas
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