AmbWTE: A valorização energética da biomassa e outros resíduos

Falámos com Nuno Janicas, Director de Engenharia e Produção da AMBITERMO,  sobre o projeto AmbWTE, cofinanciado pelo COMPETE 2020, que tem como objetivo o desenvolvimento de um sistema inovador de gaseificação de ciclo combinado que possa ser alimentado com diferentes matérias-primas heterogéneas, um fuel-mix constituído por CDRs (fração lenho celulósica e fração polimérica) e lamas.

Nuno Janicas | Director de Eng.ª e Produção da AMBITERMO
 

Enquadramento

A deposição em aterro de Resíduos Urbanos (RU) continua a ser o método de eliminação mais utilizado em Portugal para a gestão de resíduos (cerca de metade dos RU produzidos vão para aterro). A percentagem de RU que tem como destino a valorização Energética é ainda muito baixa, o que faz como que não se aproveita o potencial deste resíduo em termos energéticos.

Com o aumento de unidades de Tratamento Mecânico (TM) e Tratamento Mecânico e Biológico (TMB) têm-se vindo progressivamente a aumentar a valorização energética e orgânica de RU. Os Combustíveis Derivados de Resíduos (CDR) são um dos resultados das operações de triagem e tratamento realizado sobre os RU nestas unidades e são de enorme importância a sua exploração económica.

Uma outra forma de resíduo que tem um carater urgente de gestão e valorização é as lamas de depuração, com multiplicidade de origens (tratamento de águas residuais urbanas, de águas para abastecimento público, de efluentes líquidos das explorações pecuárias, de efluentes das indústrias agroalimentares, de efluentes de outras indústrias, etc.).

A biomassa e outros resíduos (resíduos florestais, de moagem, agrícolas, de madeira, animais, plantas aquáticas, plantas e árvores de crescimento rápido e resíduos municipais e industriais), podem assumir diferentes formas de valorização energética.

Considerando as elevadas quantidades de CDR e de outros resíduos com elevado poder calorífico que importa valorizar e desviar de aterro, torna-se necessário e pertinente o desenvolvimento de tecnologias de conversão energética que não só efetuem um tratamento eficaz destes resíduos (CDR), como também minimizem o impacto ambiental da sua gestão.  

Objetivos

O projeto AmbWTE visa o desenvolvimento de um sistema inovador de gaseificação [processo que transforma combustíveis sólidos ou líquidos numa mistura combustível de gases, chamada gás de síntese ou syngas] de ciclo combinado que possa ser alimentado com diferentes matérias-primas heterogéneas, um fuel-mix constituído por CDRs (fração lenho celulósica e fração polimérica) e lamas. Pretende-se alcançar um sistema que funcione de forma contínua com pequenas quantidades de resíduos e que assente na reutilização do syngas resultante da gaseificação desses resíduos para produção de energia elétrica e energia térmica, diminuindo o impacto ambiental deste processo e contribuindo para eficiência e autonomia energética dos gestores de resíduos. Por outro lado, este processo permitirá a obtenção de um carvão de CDR, com propriedades melhoradas, que poderá ter outras aplicações industriais além da gaseificação, nomeadamente como adsorvente ou como combustível sólido para caldeiras. O projeto AmbWTE contribuirá para a transição do modelo linear de produção de bens e serviços, para um modelo circular (Economia Circular), permitindo que os resíduos sejam transformados, através da inovação, em potenciais subprodutos ou energia com baixa pegada de carbono. Pretende-se assim desenvolver um sistema que assentará num processo de transformação térmica e de valorização de resíduos de diferentes setores económicos que terá como objetivos macro:

- Transversalidade do sistema a um conjunto de resíduos setoriais (fração lenho celulósica e fração polimérica dos CDRs e lamas);

- Melhoramento termoquímico das propriedades das matérias-primas;

- Eficiência Energética e Controlo das Emissões;

- Controlo e Manutenção do Sistema.

Breve Testemunho da Importância do projeto e do apoio do COMPETE2020

O projeto é bastante relevante para as temáticas atuais relacionadas com a sustentabilidade ambiental e energética, onde é preciso travar o aumento da deposição de resíduos em aterro, dado que a sua capacidade é finita e o impacto ambiental é elevado, devido aos gases de efeito de estufa (GEE) libertados pelos resíduos depositados em aterros a céu aberto ou contaminação dos terrenos. Por outro lado, devido à dependência do consumo de combustíveis fosseis, existe um grande potencial em explorar os resíduos através da valorização energética, uma vez que estes resíduos após serem tratados podem oferecer um elevado poder energético.

O consórcio constituído pela AMBITERMO – Engenharia e Equipamentos Térmicos, S.A. (líder), pelo CVR – Centro para a Valorização de Resíduos, pela Universidade do Minho; pela Universidade Nova de Lisboa, pela Braval – Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos, S.A. e pelo Instituto Politécnico de Portalegre vê uma oportunidade no financiamento do COMPETE2020 para estudar diferentes tipos de resíduos, diferentes combinações e aplicar diferentes tecnologias através da criação de uma unidade protótipo para ensaiar a uma escala pré-industrial a valorização energética através de um fuel-mix constituído pelas frações lenho celulósicas e poliméricas dos CDRs e lamas e que em função das suas caraterísticas poderá alimentar diretamente a unidade gasificador ou sofrer um tratamento prévio (através das unidades de carbonização hidrotérmica e/ou densificação). O syngás resultante poderá ser usado para a produção de energia elétrica.

O Apoio do COMPETE 2020

O projeto conta com o apoio do COMPETE 2020 no âmbito do Sistemas de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico em Copromoção, envolvendo um investimento elegível de 1,5 milhões de euros o que resultou num incentivo FEDER de cerca de 905 mil euros.

Links

AMBITERMO: Website | Facebook

CVR: Website | Facebook | Linkedin | Twitter

Universidade do Minho: Website | Facebook | Linkedin | Twitter

Universidade Nova de Lisboa: Website | Facebook | Linkedin | Twitter

Braval: Website | Facebook

Instituto Politécnico de Portalegre: Website | Facebook | Linkedin

 

 

 

 

08/02/2022 , Por Miguel Freitas
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