CorkPlus: A contribuição das rolhas de cortiça para as propriedades químicas e sensoriais de vinho engarrafado

Enquadramento

A Amorim & Irmãos S.A., promotor do projeto CorkPlus, definiu como prioridade estratégica a aposta em Investigação e Desenvolvimento na área de inovação dos seus produtos (rolhas de cortiça) e processos bem como na interação entre as rolhas de cortiça e as bebidas alcoólicas, nomeadamente o vinho, tendo em vista a contínua valorização dos seus produtos.

O facto é que, de acordo com resultados de inquéritos feitos a clientes e consumidores, a rolha de cortiça continua a ser o vedante de excelência, nomeadamente no setor de vinhos de alta gama, no qual se incluem os vinhos de elevada qualidade e reputação e consequentemente de maior valor comercial.

Até à data, as rolhas de cortiça natural são separadas em classes visuais diversas com base na diferente porosidade da sua superfície, o que permite estabelecer as diferentes classes comerciais.

O Projeto

Com este projeto, pretendeu-se encontrar uma nova forma de classificação, baseada na contribuição química e sensorial que potencialmente as rolhas de cortiça possam ter para a evolução dos vinhos aos quais servem de vedante. Isto levará à melhoria substancial da qualidade das rolhas, traduzindo-se em classes comerciais de "apport" fenólico e volátil diverso.

Esta nova forma de classificação das rolhas de cortiça, para além de ser totalmente inovadora, tem a mais-valia de permitir à indústria vínica selecionar a classe de rolhas que melhor se adequa ao perfil do seu vinho, levando a uma segmentação muito mais objetiva do universo de rolhas produzidas e permitindo uma homogeneidade significativa nos vinhos vedados por cada nova classe de rolhas com "apport" fenólico e volátil diferente.

Esta é uma importante ferramenta comercial para promover e aumentar ainda mais a utilização da rolha de cortiça como vedante natural de vinhos e consequentemente as vendas deste produto.

Para se atingir este objetivo final, o projeto reuniu as competências específicas em áreas diversas, tais como a análise química de compostos fenólicos e de compostos voláteis, para perceber qual o impacto que este tipo de compostos, existentes na cortiça, têm nas propriedades químicas, sensoriais e biológicas dos vinhos.

Por outro lado, foi necessário aplicar uma tecnologia de análise e caraterização química da cortiça, que não alterasse visualmente as rolhas nem as suas propriedades físico-mecânicas e funcionais, de forma a estabelecer classes preditivas e uniformes de "apport" de compostos fenólicos, voláteis e semi-voláteis das rolhas de cortiça ao vinho quando em garrafa.

O projeto envolve um consórcio de dois parceiros, sendo a Amorim & Irmãos o promotor e o ICETA - Instituto de Ciências, Tecnologias e Agroambiente da Universidade do Porto, o copromotor.

No promotor, foi envolvido o departamento de Investigação & Desenvolvimento e as unidades industriais de produção e de acabamento de rolhas naturais, que para além de fornecerem todas as amostras para o projeto, asseguraram as avaliações necessárias para garantir o cumprimento de todos os requisitos e especificações do produto final enquanto vedante. No entanto, a Amorim & Irmãos sozinha não possui as competências necessárias para levar a cabo a execução global da estratégia proposta. A necessidade de extrair, identificar e caraterizar a fração fenólica e volátil migrante das rolhas de cortiça para soluções simulantes de vinho e para vinhos engarrafados, durante os ensaios foi levada a cabo pelo ICETA.

O projeto permite a valorização das propriedades da cortiça numa vertente até agora pouco considerada, nomeadamente a contribuição positiva das rolhas de cortiça para a otimização das propriedades organoléticas dos vinhos em garrafa de forma comprovada e suportada por factos científicos e técnicos, ao longo do tempo. O facto de se conseguir estabelecer uma nova classificação de rolhas, que permite a sua separação em classes de "apport" químico de performance uniforme e previsível, contribui para a diminuição significativa da variabilidade inerente a este produto natural. De facto este aspeto não é de todo negligenciável, uma vez que depois da resolução dos problemas que afetavam a qualidade das rolhas de cortiça nomeadamente no que se refere a compostos responsáveis por defeitos sensoriais, é a variabilidade garrafa a garrafa, que eventualmente está ligada á migração de compostos fenólicos e voláteis, aquela que mais preocupa os clientes.

Os resultados esperados deste projeto são o aumento da competitividade da empresa através da melhoria da qualidade comercial dos seus produtos e aumento de quota do mercado nos vinhos, seja por melhoria da qualidade do serviço prestado aos seus clientes ou por conquista de mercados servidos pelos vedantes alternativos. Os resultados esperados com este projeto, ultrapassam largamente as suas fronteiras, na medida em que contribuirão para alicerçar as rolhas naturais, produto de maior valor acrescentado da indústria de cortiça, permitindo que a fileira da cortiça aumente as vendas e, por essa via, contribua para o aumento do emprego no setor.

Em declarações ao COMPETE 2020, Miguel Cabral, Diretor de I&D da Amorim & Irmãos e responsável pelo projeto, destaca a importância do apoio dos fundos comunitários:

"O Compete 2020 teve uma contribuição crucial para o desenvolvimento deste projeto. Sem ele teria sido impossível juntar o conjunto de recursos e competências indispensáveis para a realização de toda a investigação necessária para atingir os objetivos do projeto. Para além dos “deliverables” conseguidos, algo muito importante foi a aproximação a equipas de investigação da Universidade que trazem uma visão mais objetiva e especifica na abordagem destes e de outros temas importantes para o negócio das rolhas de cortiça."

O Apoio do COMPETE 2020

O projeto conta com o apoio do COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico, envolvendo um investimento elegível de 1,2 milhões de euros o que resultou num incentivo FEDER de cerca de 719 mil euros.

15/10/2018 , Por Miguel Freitas
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