FightSterol: alimentos que reduzem colesterol

Enquadramento

As doenças cardiovasculares são as principais causas de morte em todo o Mundo: anualmente morrem 17 milhões de pessoas devido a doenças cardíacas, em particular enfartes do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC) e estima-se que este número vá aumentar para 23,3 milhões em 2030. Apesar dos esforços bem-sucedidos para reduzir a mortalidade causada pelas doenças cardiovasculares, 40% das mortes na Europa ainda são devidas a estas doenças; 54% dos custos totais em saúde na Europa são relativos às doenças cardiovasculares.

Elevados níveis de colesterol (COL) no sangue são uma das principais responsáveis por doenças cardiovasculares. Esses níveis são o resultado de uma ingestão de COL mediante dietas não equilibradas e/ou produção endógena anómala no fígado. A estratégia mais comum para controlar o teor de colesterol no sangue é a redução da sua produção endógena. Contudo apesar da baixa síntese de COL nestas condições, existem evidências de que o risco de doença cardiovascular não decresce e estará associada à elevada absorção intestinal de colesterol.

Uma estratégia alternativa é reduzir a absorção de COL no intestino, atuando tanto no COL fornecido pela dieta como no COL endógeno. Vários nutraceuticos presentes na dieta humana tem sido implicados na diminuição dos níveis de COL, mas os mecanismos de ação não são completamente conhecidos e a sua eficácia tem sido questionada.

O Projeto

Neste projeto pretende-se endereçar as regras e os princípios que levem a otimizar alimentos funcionais hidrofílicos (usando o café como exemplo) que reduzam a absorção de colesterol, superando as contrariedades existentes nos alimentos funcionais correntes.

A maioria dos alimentos funcionais atualmente existentes para redução do colesterol são baseados em matrizes hidrófobas (solúveis em gordura), cujo exemplo mais típico são os derivados de laticínios (ex. iogurtes com fitoesteróis adicionados). São alimentos com efectividade reduzida, pouca seletividade e com tempo de toma que não maximiza o seu efeito. Usando como prova de conceito o café, ambiciona-se obter um produto efectivo e selectivo na redução do colesterol, reunindo as seguintes características: i) ser eficaz na redução da solubilização do COL no lúmen intestinal (interpretando os mecanismos e sinergias entre os nutraceuticos), ii) ser consumido com as principais refeições do dia, onde a maior quantidade COL é ingerido (maximizando o seu efeito); iii) tirar proveito do potencial intrínseco da sua riqueza em termos de nutrientes (estabelecendo a modulação do perfil nutraceutico que seja efetiva na redução de absorção de COL; iv) reduzir a permeação de colesterol através de células que mimetizem o epitélio intestinal; e v) manter as características organoléticas do produto final garantindo a aceitação dos consumidores.

Antecipa-se não ser necessário o enriquecimento com ingredientes externos à matriz alimentar do café (devido á sua riqueza nutraceutica intrínseca), mas sim uma modulação do processo produtivo garantindo a presença de ingredientes saudáveis (portanto um alimento saudável) e promovendo as sinergias entre estes. Polissacarídeos presentes no café, nomeadamente galactomananas e arabinogalactanas já mostraram ser efectivos no decréscimo da solubilidade de colesterol num modelo intestinal simplificado, corroborando o potencial hipocolesterolémico do café. (Coreta-Gomes, F.M., et al. Nutrients 2020, 12, 437).

Como o café está incutido nos hábitos e rotinas dos consumidores e é tomado após as refeições maioritárias (o horário ideal para maximizar o efeito destes produtos) considera-se que o seu potencial é grande em termos de saúde e em termos económicos, com impacto no sector agroalimentar de alimentação saudável. Trata-se de um produto diferenciado com valor acrescentado garantindo a sustentabilidade num sector que é uma das tendências em termos de consumo.

Apesar de ser proposto o café como prova de conceito, a investigação proposta neste projeto tem aplicações com maior abrangência noutros setores agroalimentares (nomeadamente bebidas, sopas, molhos, vinagres, gelatinas, azeites, etc.), que tradicionalmente não são explorados como alimentos funcionais, abrindo-se uma janela de oportunidades para a indústria agroalimentar.

O desenvolvimento de alimentos funcionais mais efectivos e selectivos que permitam regular os níveis de colesterol, como é proposto neste projeto, podem contribuir para a saúde e bem-estar e para um envelhecimento saudável da população.

O Apoio do COMPETE 2020

O projeto é promovido pela Universidade de Aveiro em co-promoção com a Universidade de Coimbra e cofinanciado pelo COMPETE 2020 no âmbito do Sistema de Apoio à Investigação Científica e Tecnológica, envolvendo um investimento elegível de 213 mil euros, que resultou num incentivo FEDER de cerca de 181 mil euros.

Em declarações ao COMPETE 2020, Filipe Gomes, Investigador Responsável do projeto FightSterol, falou da importância do apoio dos Fundos Comunitários: 

Filipe Gomes - Investigador Responsável do FightSterol  

“Este incentivo foi decisivo para o financiamento do projeto FightSterol, possibilitando os meios materiais e os recursos humanos imprescindíveis que tem permitido a caracterização do detalhe estrutural e o entendimento das propriedades funcionais de ingredientes hipocolesterolémicos, perspetivando-se que o desenvolvimento tecnológico gerado possa refletir-se e ser transferido para diferentes players da sociedade, impactando em áreas como a saúde, setor industrial e económico.”

 

09/10/2020 , Por COMPETE 2020
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