Projeto PortugalFoods_Qualifica

Sensibilizar, qualificar e dinamizar o setor agroalimentar português, através da partilha de conhecimento sobre tendências, prioridades e boas práticas em temáticas emergentes é o objetivo do projeto “PortugalFoods_Qualifica”, promovido pela Associação PortugalFoods. Nesta edição da Newsletter o Compete 2020 ouviu a equipa responsável por este projeto nacional que pretende acompanhar e estudar o avanço tecnológico e a evolução das preferências do consumidor nos próximos anos.

 

Enquadramento

O setor agroalimentar inclui o conjunto de atividades relacionadas com a produção e transformação de matérias primas em bens alimentares ou bebidas e a sua disponibilização ao consumidor final, abrangendo atividades tão distintas como a agricultura, a silvicultura, a indústria de alimentos e bebidas e a distribuição. É um setor altamente competitivo, onde o efeito escala é importante, o que se comprova pela existência de algumas e conhecidas grandes multinacionais na área, apesar das empresas de menores dimensões serem predominantes.

O setor agroalimentar representa uma das fileiras estratégicas para a dinamização da economia nacional. Correspondendo a cerca de 287 mil postos de trabalho no total da fileira, cerca de 21 mil milhões de euros de volume de negócios e com as exportações a ascenderem a cerca de 6,3 mil milhões de euros. (INE).

No que respeita à estrutura, o setor agroalimentar nacional caracteriza-se por uma acentuada atomicidade e grande dispersão quer geográfica, quer por setor de atividade, em que predominam as muito pequenas e pequenas empresas, o que dificulta a obtenção de economias de aglomeração e de capacidade negocial nos mercados. No contexto nacional, há uma década o setor agroalimentar era caracterizado por desenvolver atividades centradas no mercado e consumidores tradicionais, com fraca orientação para a exportação e desenvolvimento tecnológico. No entanto, a criação de polos e clusters no setor promoveu a capacitação tecnológica dos seus associados, o desenvolvimento de novos produtos e a melhoria dos processos produtivos, ajudando as empresas na adaptação às exigências dos mercados nacionais e internacionais.


Entrevista com a equipa do projeto:

Deolinda Silva | Diretora Executiva da PortugalFoods

Pedro Ferreira | Coordenador Executivo

Teresa Carvalho, Coordenadora Executiva | Knowledge Division

Joao Ferreira, Project Manager | Knowledge Division

Quais são os principais objetivos do projeto e de que forma se vai concretizar?

O projeto apresenta 5 objetivos operacionais, que pretendem dinamizar a cooperação entre as empresas e as entidades do sistema científico e tecnológico , promovendo a inovação e o crescimento tecnológico do setor; produzir e disseminar a informação do observatório digital de tendências e oportunidades para o setor,; dinamizar iniciativas que promovam a criação e partilha de conhecimento nas empresas em áreas como a Economia Digital, a Economia Circular, a Indústria 4.0, a literacia financeira e as oportunidades de financiamento nacionais e internacionais; dinamizar iniciativas que promovam o fomento da evolução tecnológica no setor, nomeadamente ao nível da Indústria 4.0 e da aposta em TIC, bem como promovam o fomento de tecnologias e/ou práticas que possibilitem o aumento da sustentabilidade ambiental e um melhor aproveitamento de resíduos no setor agroalimentar, nomeadamente através da implementação de modelos de Economia Circular.

A operacionalização do projeto já se encontra a decorrer, desde o final do ano 2019, o que possibilita que à data já se tenham materializado parte dos objetivos operacionais definidos para o PortugalFoods_Qualifica. A interligação dos objetivos operacionais, referidos acima, com as atividades delineadas no projeto evidenciam uma metodologia de trabalho coesa e estruturada, que possibilita a concretização sequencial e bem estabelecida do projeto.

Como reflexo da eficiente coordenação e gestão técnica do projeto, é possível encontrar no website (https://qualifica.portugalfoods.org) o observatório digital de tendências que ilustra as tendências e as oportunidades para o setor, nomeadamente ao nível do conhecimento sobre novos produtos e técnicas de produção, como ao nível do acompanhamento da evolução tecnológica e da evolução das preferências do consumidor. Adicionalmente, é possível consultar na secção de resultados os relatórios relativos ao levantamento de constrangimentos e necessidades das empresas nacionais do setor ao nível das temáticas da indústria 4.0, economia circular e economia digital, assim como o relatório de estudo de benchmarking internacional nas temáticas da indústria 4.0, economia circular e economia digital. Brevemente, poderão ser encontrados os guias informativos para estas três temáticas, bem como o roadmap tecnológico para o setor.

Que factores podem diferenciar as empresas nacionais do sector? Não falamos apenas do óbvio que seria a promoção de produtos locais, mas da aposta da inovação e diferenciação?

A estratégia para a diferenciação e aumento da competitividade das empresas do setor passa, pela aposta na inovação, a partir da constituição e/ou fortalecimento dos seus departamentos de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico, assente numa ótica de inovação colaborativa com empresas e entidades do sistema científico. A presença em redes colaborativas como é o caso dos clusters, laboratórios colaborativos entre outras entidades nacionais e internacionais é também fundamental como entidades que podem dar suporte aos processos de inovação e às dinâmicas do setor em que se inserem. Paralelamente, é fulcral que as empresas continuem atentas às movimentações dos mercados e do comportamento do consumidor, acompanhando de perto as tendências mundiais para que, desta forma, possam responder de forma rápida e eficaz às necessidades do mercado. De referir ainda a premência em investir na modernização tecnológica, assente nos conceitos da indústria 4.0, e na digitalização das empresas como forma de responder às exigências atuais, conquistando novos clientes.

Atendendo ao atual “estado” da economia nacional, devido à pandemia da covid-19, que outras respostas encontrou o setor que representa para fazer face à crise?

De uma forma geral a indústria alimentar reagiu de forma muito positiva à grave situação que apareceu de forma tão rápida e inesperada e teve a capacidade de manter o abastecimento do mercado.

Em pleno confinamento, a indústria reinventou-se. Algumas empresas passaram a produzir referências com maior rotação, para dar resposta à procura no retalho de bens básicos de alimentação, outras procuraram novos mercados ou centralizaram as suas vendas em mercados para onde têm já histórico. Outras empresas procuraram soluções de vendas online: algumas criando as suas próprias lojas e outras colocando os seus produtos à venda em plataformas existentes.

Face a esta situação o setor procurou novas soluções e temos vindo a assistir a um crescente número de parcerias entre empresas e outras entidades por forma a facilitar o escoamento de produto e potenciar vendas.

Como perspetiva a evolução do setor nos próximos tempos?

Espera-se que o processo de recuperação seja complexo e exigente. Para uma recuperação do consumo e das exportações a aposta deverá ser num aumento da capacidade tecnológica e da digitalização das empresas; na adaptação da capacidade logística e descoberta de novas soluções – a logística torna-se cada vez mais importante e vital no ciclo do negócio; no reforço da transparência e da segurança - a rastreabilidade dos produtos e a sustentabilidade das cadeias de abastecimento serão cada vez mais importantes. Perspetivamos uma recuperação no consumo mais difícil, sobretudo pela lenta recuperação do canal Horeca.

A colaboração robusta entre o meio empresarial e as universidade/centros de investigação, bem como a aposta nas temáticas emergentes da indústria 4.0, economia digital e economia circular serão essenciais nesta recuperação.

Podemos pedir que desmitifique: o que é a alimentação funcional?

A proliferação dos chamados “produtos alimentares funcionais” - produtos que para além da função nutricional básica, apresentam um efeito benéfico para o consumidor - começou na década de 1990 e tem vindo a aumentar desde então. No mercado de hoje em dia, e de um ponto de vista regulamentar, os produtos funcionais normalmente apresentam mais do que uma alegação de saúde na sua embalagem. Alegações estas que definitivamente influenciam as decisões de compra dos consumidores, cada vez mais atentos aos rótulos dos alimentos e mais focados na sua própria saúde. No entanto, apesar de natureza semelhante, estas alegações não têm a mesma regulamentação em todos os países. De um ponto de vista de marketing, assiste-se ao lançamento de novos produtos no mercado, a nível global, com dezenas de posicionamentos funcionais diferentes, desde “melhoria da saúde óssea” até à “redução do stress”. Assim, é necessária uma harmonização internacional para melhorar as condições de comercialização ao nível global, tal como garantir aos consumidores o mesmo nível de informação.

O que mudou no sector com a política de clusterização?

Os clusters de competitividade constituem-se como plataformas agregadoras de conhecimento, estabelecendo redes de colaboração e de parceria, que integram os principais atores do sistema (empresas, entidades do sistema científico e tecnológico nacional, centros de I&D, laboratórios colaborativos…) que têm dinamizado os vários setores da economia em que se inserem.

Os Clusters têm um papel importante na informação às tutelas sobre a realidade das empresas, constrangimentos e oportunidades, como contributo para a elaboração de políticas e instrumentos adequados às suas necessidades. Como dinamizadores de Estratégias de Eficiência Coletiva os Clusters têm tido um papel fundamental nos processos de inovação das empresas, através do apoio à transferência e aplicação de conhecimento das entidades do sistema científico e tecnológico para as empresas, assim como nos processos de promoção externa das marcas e produtos com um claro contributo para o aumento das exportações do setor.


 

Projeto

A missão da PortugalFoods assume, desde o seu início, o compromisso de reforçar a competitividade das empresas do setor agroalimentar através do aumento do índice tecnológico, promovendo simultaneamente a sua entrada em mercados estrangeiros através da capacitação para a internacionalização e na identificação e captação de oportunidades.

Tendo por base um diagnóstico efetuado às empresas, o grande objetivo estratégico do projeto PortugalFoods_Qualifica consiste na sensibilização e dinamização do tecido empresarial do setor agroalimentar nacional através da implementação de iniciativas que contribuam para a produção e partilha de conhecimento sobre tendências, prioridades e boas práticas em temáticas como a Inovação tecnológica, a Indústria 4.0, a Economia circular, a Economia digital, a literacia financeira, entre outras.

O Projeto PortugalFoods_Qualifica, alinhado com a missão da PortugalFoods, divide-se pelos seguintes objetivos e atividades:

- Dinamizar a cooperação entre empresas, universidades e centros de investigação nacionais e internacionais, promovendo a evolução tecnológica e a inovação no setor agroalimentar, nomeadamente através da preparação de um Roadmap Tecnológico para o setor;

- Produzir e disseminar informação através de um observatório digital dedicado à divulgação de tendências e oportunidades para o setor agroalimentar português, que potencie a comunicação entre empresas, entidades do sistema I&I nacional e outras entidades não empresariais do setor, promovendo a colaboração e a partilha de conhecimentos;

- Organizar e dinamizar iniciativas que promovam a criação e partilha de conhecimentos nas empresas, nomeadamente através de workshops, conferências e fóruns de discussão sobre temáticas como Economia Digital, Economia Circular, Indústria 4.0, literacia financeira e oportunidades de financiamento nacionais e internacionais;

- Promover ações que promovam o fomento da evolução tecnológica no setor, nomeadamente ao nível da Indústria 4.0 e da aposta em TIC;

- Dinamizar iniciativas que promovam o fomento de tecnologias e/ou práticas que possibilitem o aumento da sustentabilidade ambiental e um melhor aproveitamento de resíduos no setor agroalimentar, nomeadamente através da implementação de modelos de Economia Circular.

No âmbito da disseminação de informação, destaca-se o recente lançamento de um conjunto de fichas informativas que refletem a análise das tendências de consumo e oportunidades de mercado para o setor, produzidas com informação recolhida através da base de dados Mintel, uma fornecedora líder global de inteligência de consumidor que reúne informação detalhada relativamente ao lançamento de novos produtos e à análise de tendências de consumo, preços praticados e evolução de vendas.

Estes documentos têm por objetivo dotar as empresas com conhecimento relevante para o desenho de produtos em função das tendências de cada mercado e da procura internacional, facilitando o seu ajuste no posicionamento face à concorrência internacional e promovendo o grau de inovação interno.

As fichas estão repartidas por 14 categorias de 5 mercados identificados como prioritários para o setor agroalimentar português, nomeadamente Espanha, Brasil, França, Canadá e Colômbia.

Ficha Informativa – Carnes – Alemanha

 

Ficha Informativa – Frutas e Vegetais – EUA

 

Ficha Informativa – Padaria, Pastelaria e Confeitaria – China

 


 

O Projeto PortugalFoods_Qualifica está, igualmente, alinhado com os compromissos e objetivos estabelecidos aquando da assinatura do Pacto Sectorial para a Competitividade e Internacionalização do Setor Agroalimentar, assinado pelo Ministério da Economia e o Portuguese Agrofood Cluster.

Ao longo do Projeto, estima-se que participem nas várias atividades programadas, mais de 150 empresas e que 80% das participantes considere útil a informação e ferramentas disponibilizadas no âmbito do Projeto.

 


PortugalFoods

A PortugalFoods é uma associação formada em 2008 por empresas, entidades do sistema científico e tecnológico nacional e entidades regionais e nacionais que representam os vários subsetores que compõem o setor agroalimentar português.

A PortugalFoods é um "espaço" onde estas entidades estabelecem relações win-win, tendo como objetivo final a produção e partilha de conhecimento como suporte à inovação e à competitividade.

A marca PortugalFoods é a marca "umbrella" do Setor Agroalimentar Português promovida pelo Pólo de Competitividade e Tecnologia Agroalimentar. Esta imagem deve ser única e de excelência, promovendo Portugal, os seus produtos, as suas marcas e as suas empresas com modernidade e adequação, nos mercados internacionais.

14/10/2020 , Por COMPETE 2020